1975 foi um ano decisivo na minha vida. Moleque do interior, ainda entrando na adolescência, reuni toda coragem disponível no peito para sair de casa. A intenção oficial, digamos, era encontrar um bom colégio. Me inscrevi na escola que prepara cadetes para a Aeronáutica, a elite da tropa de pilotos dos aviões mais velozes do país. Não tenho militar na família. Não sabia a diferença entre um sargento e um coronel. Minhas parcas informações sobre a vida militar vinham do gibi Recruta Zero, que adorava. E foi como um autêntico recruta zero, depois de uma tonelada de exames dificílimos- pedagógicos, psicotécnicos, físicos e médicos- que entrei para a FAB- Força Aérea Brasileira, aos quinze anos de idade. Mais especificamente, virei o Aluno 75/144 Athayde, da EPCAR- Escola Preparatória de Cadetes do Ar, em Barbacena- MG.
Se lá tivesse permanecido, dado conta da dura rotina de um piloto de caça, hoje teria a patente de Brigadeiro, como acontece com alguns queridos colegas da turma 75. Este foi o ponto de partida da idéia surgida numa conversa com o fotógrafo Jairo Goldflus, que lança em abril um livro com 100 personalidades brasileiras. Jairo queria que eu incorporasse um personagem para ser fotografado. De brincadeira, chutei: e se eu posasse de um piloto que eu nunca fui?
Meticuloso e imerso no seu silêncio de criador de imagens, Jairo preparou uma emoção que jamais imaginaria viver ainda nessa encadernação. Conseguiu uma farda de verdade da FAB, um macacão de piloto de caça, com meu nome gravado no peito e tudo mais. Só me dei conta do tamanho da honraria no estúdio do fotógrafo. Lá estava um oficial da FAB para me auxiliar a colocar o equipamento: um uniforme completo, capacete, macacão, pressurizador anti-gravidade nas pernas… Sempre tive a fantasia de ter meu sangue bombeado de volta para o cérebro por este equipamento num rasante de F-5.
Não é permitido a civis usar farda militar (coisa que o CQC descobriu essa semana, parabéns Policia Militar de SP por enquadrar Oscar Filho e equipe). A foto só foi possível graças a uma autorização especial e direta do Ministro (sic) da Aeronáutica, o Brigadeiro Juniti Saito. A ele serei eternamente grato pela emoção de me reconectar à FAB, a minha base de lançamento para o início do meu vôo solo por esse mundão véio sem porteira da vida. Obrigado comandante Saito; obrigado Jairo, obrigado aos colegas da Turma 75. Bom vôo à todos!
Marcelo Tas